Nicolas Cage volta à boa forma em 'Vício frenético'

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Longa que está na Mostra de SP traz o ator como policial viciado. Filme de Werner Herzog se passa na Nova Orleans pós-Katrina.
Em março deste ano, época de lançamento do filme “Presságio”, um crítico da revista “Entertainment Weekly” provocou, em tom de ironia: “Quando é que Nicolas Cage vai fazer um outro filme que preste?” A resposta veio meses depois com “Vício frenético” (ou “Bad lieutenant – Port of call: New Orleans”), longa mais recente estrelado pelo ator que tem sessões na 33ª Mostra de Cinema de São Paulo. Esqueça os micos em “A lenda do tesouro perdido”, “Con air – Rota de fuga” ou no terrível “Motoqueiro fantasma”, uma das piores adaptações de quadrinhos dos últimos anos. Em “Vício frenético”, Cage volta a encarnar um protagonista amoral e desajustado como em seus melhores momentos de “Senhor da guerra”, “Adaptação” ou “Despedida em Las Vegas”. Deste último, ele empresta ainda o caráter decadente e autodestrutivo que lhe rendeu o Oscar em 1996. No drama dirigido pelo alemão Werner Herzog (de “O homem urso”), Cage faz o papel de um dependente químico voraz: crack, cocaína, heroína, LSD, maconha... o que vier Terence McDonagh está mandando para dentro. Graças a um acidente que lhe deixa com fortes dores na coluna, ele caminha com dificuldades e – além da lista de drogas acima – ainda consome doses diárias do poderoso anestésico tarja preta Vicodin. Mas McDonagh é também um detetive do departamento de polícia de Nova Orleans, pós-Furacão Katrina, destacado para chefia uma investigação sobre o assassinato de uma família de imigrantes africanos envolvidos com o tráfico de drogas na cidade. Mesmo trabalhando 100% chapado e adotando métodos no mínimo questionáveis, McDonagh é um policial eficiente, que traz resultados às missões para as quais é destacado. Para isso, muitas vezes, joga dos dois lados. Conversa com bandidos e viciados de igual para igual e até acende um baseado, “para acalmar”, enquanto interroga um traficante durante uma ação de busca e apreensão. O problema é que para sustentar o vício literalmente frenético o tenente acaba lançando mão de artifícios que incluem roubar drogas dos próprios criminosos que deveria combater e corromper os colegas da delegacia onde trabalha para conseguir acesso aos entorpecentes recolhidos em operações da polícia. E, pior, acaba ficando refém de gangues que não temem o seu distintivo na hora de cobrar suas dívidas. Por trás de tudo isso, McDonagh esconde um coração mole. Ama a sua namorada (Eva Mendes), uma prostituta de luxo viciada com quem divide as doses que consegue, preocupa-se com o garoto que é testemunha chave na investigação em que trabalha, protege a madrasta das grosserias do pai alcoólatra e cuida até do cachorro que acaba caindo no seu colo depois de uma briga entre os dois. É assim que, como em “Despedida em Las Vegas”, o protagonista de “Vício frenético” é um personagem repleto de ambigüidades, que causa repulsa, sem dúvida, mas também muita compaixão no espectador. Em seus momentos de maior loucura, como quando vê iguanas inexistentes na escrivaninha do apartamento onde seus colegas policiais escolheram montar tocaia, Terence McDonagh é também capaz de garantir boas risadas. Bem mais saudáveis, a bem da verdade, que as de vergonha alheia provocadas por algumas de suas atuações esquecíveis dos últimos tempos.
Fonte: G1